domingo, 7 de abril de 2013

A sabedoria da velhice
Autor: José Caetano Vieira de Sousa.
Resumo: O conteúdo deste pequeno ensaio, aborda uma reflexão generalista sobre o estado do desenvolvimento do ser humano e algumas das fases mais preponderantes do desenvolvimento ao longo do ciclo da vida humana, desde a socialização até à velhice, procurando com isto identificar o actual estado do país ao nível de média de idades, e o aumento significativo da esperança média de vida. Actualmente a classe de idosos tem sofrido muitos “castigos”, que levam à identificação de alguns problemas que afectam a velhice e que impossibilitam a busca da sua verdadeira identidade. A dicotomia velhice/sabedoria, torna-se algo complexo, juntando à actual imagem social, uma imagem negativista, sem estatuto social, débil, onde se procura perceber qual a verdadeira razão da não utilização de toda a vivência deste seres humanos para prevenção de erros ou situações anómalas. Qual o futuro dos nossos idosos? Até quando é que este preconceito vai durar?
Palavras-chave: Desenvolvimento, socialização, resiliência, velhice, sabedoria, vivência, exclusão social, futuro.
            O ser humano vive num ciclo de vida constante que inicia e termina, onde se iniciam relacionamentos, onde se cresce, evolui, onde amadurecemos emocionalmente, etc., todo este ciclo se baseia nas fases do nascer, crescer, progredir e morrer. Alguns investigadores como Erikson ou Loevinger propuseram algumas teorias que justificam o desenvolvimento do ciclo de vida humano, Loevinger colocou a teoria dos estádios do Eu no desenvolvimento humano e que cada estádio provém nos estádios precedentes e que só evolui quando todas as características do estádio anterior forem observadas. Para Erikson o desenvolvimento do ciclo de vida estava fundamentado principalmente na interacção entre os impulsos, carácter, cognição e relações interpessoais.
            Após esta introdução e abordando as temáticas no desenvolvimento ao longo do ciclo de vida, com as perspectivas de alguns dos investigadores estudados, o que imaginamos ser a actualidade social em que vivemos é que a esperança média de vida que está a aumentar significamente, independentemente do nº de idosos ser maior do que em anos anteriores, mas que as pessoas se mantêm mais saudáveis. Os contextos do desenvolvimento humano (socialização) baseiam-se na assimilação de hábitos característicos do grupo social onde está inserido, e no processo que decorre até se tornar um cidadão integrante dessa sociedade e cultura. Este processo inicia-se após o nascimento e os primeiros contactos serão a família, a escola, os meios de comunicação, etc. A socialização é um processo fundamental também para a continuidade dos sistemas sociais. Existem dois tipos de socialização, a primária e a secundária, sendo que a primária é onde a criança aprende e interioriza a linguagem, as regras da sociedade, a moral e os valores que regem essa sociedade. A secundária é a integração de um individuo já socializado para que exista uma aprendizagem das expectativas que a sociedade deposita para caracterizarem o nosso desemprego e acções mediante algumas situações que nos são confrontadas.
            Ao tornar-se adulto e continuando numa fase de desenvolvimento o ser humano adquire novas competências, papéis, qualidades e comportamentos que irão marcar uma nova etapa da sua vida. Na sua idade adulta (resiliência) isto é, um conjunto de competências que adquirimos e vamos desenvolvendo de uma forma continua e em contínua reconstrução, onde demonstrem características comuns mas potencialidades diferentes. Na fase adulta o ser humano desenvolve-se, evolui, amadurece, devido aos acontecimentos pessoais, culturais, e sociais que foram surgindo e vivenciados por si durante a sua infância e adolescência.
            Na fase da velhice. O ser humano entra na última fase do desenvolvimento do ciclo de vida, é nesta fase que se verifica uma mudança aparente na forma física e no desenvolvimento cognitivo. Actualmente a velhice é uma fase etária, em que o ser humano é muito “castigado”, prejudicado, devido à mudança, à diminuição das suas capacidades físicas, psicológicas. Sendo criado e generalizado um rótulo de “velho inútil” e “estorvo”, tornam-se assim um problema para a sociedade activa, este conceito precisa ser desmistificado para evitar situações de carência de afectividade, isolamento e exclusão social, juntando estas situações podemos justificar acontecimentos como o suicídio, ou a recente descoberta constante de idosos que acabam por morrer sozinhos, nas suas residências, sem que ninguém dê conta do sucedido e apenas descobrem meses e até anos mais tarde. Nesta fase da velhice a reflexão do que fizeram, ou do que deixaram por fazer, ajuda a identificar todo este processo de desenvolvimento e crescimento pessoal, que no fundo revela a sua verdadeira identidade, quem é? Quem foi? Outro aspecto importante é o tratamento que deverá ser administrado a estes idosos que ultrapassaram uma vida de obstáculos e precisam agora de ajuda. A criação de centros comunitários e de apoio social, são algumas das respostas necessárias bem como a assistência domiciliaria e criação de incentivos para os lares de idosos e viagens da terceira idade, para com isto tentar acabar com o isolamento e exclusão social, a criação de universidades da terceira idade são também um bom incentivo para que haja convívio e aperfeiçoamento de conhecimentos. A ideia geral é que os idosos se arrastam por aí, fazendo os mais novos perder o seu tempo, que não tem capacidade de aprendizagem e que a capacidade física e psicológica já não permite grandes aventuras, todas estas ideias não estão de todo correctas, e por isso é dever da geração mais nova impedir que este preconceito aumente nos dias futuros, pois amanhã seremos nós que iremos estar nesse lugar, qual será então o meu futuro como idoso? Como é que gostaria de viver nesta última fase da minha vida? De certeza que não seria sozinho, ou excluído socialmente…
            Aliando a velhice ao conceito de sabedoria, sendo que a sabedoria está ligada directamente ao saber, partilho da mesma opinião de Baltes, a sabedoria é “um nível de mestria pragmática” (A Sabedoria, pp. 05), Baltes classifica assim a velhice como aliada da sabedoria, procurando justificar a vivência que um homem idoso já teve, a sua experiência na vida, o seu passado. Também a afirmação de Pascual-Leone tem bastante relevância, ele afirma que a sabedoria resulta da “integração dialéctica do afecto da cognição e das experiências de vida” (A Sabedoria pp. 09). Todas estas afirmações reforçam a ideia de que estas vivências, esta sabedoria, estes conhecimentos dos quais os idosos são detentores, não estão a ser minimamente aproveitados pela sociedade actual, entretanto a sociedade prefere negligenciar toda esta sabedoria que em muitos casos poderia ser bem útil na sociedade, rotulando estes idosos como “estorvo”, inúteis, dementes e condenando-os a situações de isolamento, internamento e exclusão social.
Bibliografia e webgrafia utilizadas:
- Tavares et al. (2007). Manual de Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem. Porto: Porto Editora.
- Fonseca, A. (2006). O Envelhecimento. Uma abordagem psicológica. Lisboa: Universidade Católica.

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